Nascido em Fortaleza, Ceará, em 1949 Moreno viria para o Rio de Janeiro onde se gradua em Cinema e em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Participa como jornalista no Caderno B do Jornal do Brasil, por volta de 1977-78, e trabalhou para revistas da editora Abril. Participou de um grupo de cinema chamado Fotograma, formado por Zé Rubens Siqueira, Stil, Rui Oliveira, Josimar de Oliveira e Carlos Pacheco, se concentrando no cinema de animação.  Com Stil faz seus primeiros trabalhos na assistência de direção dos filmes O filho de Urbis (70), Dinagroup (71) e A Pedra (72). O grupo leva a Cosme Alves Neto, diretor da Cinemateca do MAM, a ideia de mostras animação, particularmente mostras de filmes de animação do Leste Europeu. Em 1972, ainda na universidade, realiza seu primeiro filme: A raposa e o passarinho, desenhado diretamente sobre papel de embrulho com hidrocor. É extremamente produtivo nas décadas de 1970 e 1980 realizando diversos filmes com técnicas inovadoras, juntando recursos da animação ao documentário e à ficção. É quando realiza Eclipse, uma das obras primas desse Em 1982, ganha uma bolsa para estudar na Iugoslávia, no estúdio de animação Zagreb Film, onde fica por seis meses. Torna-se professor do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF onde havia se formado. Na década de 90, Moreno se afasta da atividade cinematográfica dedicando-se à vida acadêmica. Faz mestrado em Artes na UNICAMP com a tese “A personagem homossexual no cinema brasileiro” e, em seguida, doutorado em Comunicação com a tese “Cinema, ideologia e infância”.

Filmografia

. A Raposa e o Passarinho (1972) – animação, 35mm, dois irmãos gêmeos desenvolvem o pensamento, a partir de uma explicação de sala de aula, dentro de seus mundos. Enquanto um vê pela ideologia e tende a ser técnico, repete tudo o que está feito, fazendo parte da ordem e tornando-se peça da Grande Engrenagem. O outro raciocina dentro de seu próprio mundo, criativo e fora da ideologia e tende a ser um artista. Mas sua fraqueza vai advir da falta de organização e bases fortes para enfrentar a Grande Engrenagem, ou a ideologia. É aí então que ele vai ser engolido.

. Reflexões ou Divagações sobre um Ponto Duvidoso (1973) – animação, 8’, 35mm, direção, argumento, roteiro e texto: Antonio Moreno, fotografia (Eastmancolor): Ronaldo Foster, trucagem: Akira Murayama. montagem: Raymundo Higino, música: Pink Floyd, Procol Harum, lannis Xenakis, Emerson Lake & Palmer, narrador: Pedro Ernesto Stilpen (Stil). efeitos especiais: Geraldo José de Almeida, Lincoln Albuquerque, Antônio Moreno, produção: Sincro Filmes, Cinemat, Antonio Moreno, o filme revela o processo de conhecer através da metamorfose de imagens animadas. Um rapaz “escreve” um conto desenhado sobre um ponto mutante, que, na eterna busca de novas formas, de repente volta a ser ponto novamente sendo apagado e substituído por uma vírgula. O rapaz desiste do conto e joga fora o que “escreveu”. Mesmo assim o processo de metamorfose continua na folha jogada fora.

. Reflexos (1974) – codireção com Stil, animação, 35mm. no fundo de um teatro decadente, duas figuras saem das trevas para interpretar numa primeira parte “O canto do Cisne Negro” de Heitor Villa Lobos (animado por Moreno), e “Dança Brasileira” de Camargo Guarniere (animado por Stil).

. Ícaro e o Labirinto (1975) – animação e filmagens, 35mm, adaptação da lenda grega de Ícaro. Ícaro, no presente como um fantasma ou personagem de um sonho de outro, reflete sobre seu voo até o Sol. O filme surge de um momento de crise do realizador, além de traçar um paralelo com a própria crise política do país, com a reação do regime militar à guerrilha urbana.

. Verdes ou Favor não Comer a Grama (1976) – animação e ao vivo, 35mm, numa praça sufocada por edifícios, um menino defronta-se com uma árvore morta, protegida por uma cerca. Sensibilizado com o que viu, põe-se a desenhar a vida que nela existia.

. As Desventuras de Coco Banana (1977-1979) – animação, 2 partes, 35mm, Coco Banana nasce por acaso de um ovo de galinha. Tem a cabeça de um coco e seus cabelos são uma casca de banana. Não tem tronco, só braços e pernas. O coco simboliza, ou pode simbolizar, a “cultura coco”, ou seja, algo que parece ser muito rígido por fora mas quando se penetra, encontra-se o vazio. A casca de banana é um disfarce ingênuo para esconder os buraquinhos do coco por onde pode-se entrar mais facilmente. O filme narra a jornada de Coco Banana desde seu atribulado nascimento, sua primeira mamadeira de coca-cola que recusa e é por ela perseguido, se refugia num corredor de mil portas, e se defronta com um filme sobre a realidade brasileira (mostrada no filme com animações de recortes de jornal). Ele passa a pichar paredes, distribuir panfletos e é esmagado por um enorme pé, repleto de “salvaguardas”. No entanto, de seus mil pedacinhos surgem mil outros inteiros Coco Banana. – Técnica marginal, desenhado diretamente sobre papel quadriculado, como se o filme se passasse entre grades.

. Vão-se os Pais, Ficam os Filhos (1980) – animação, 35mm, a herança deixada de uma geração a outra, em que a violência grita mais alto.

. Oxumarê, Serpente e Arco-Íris (1981-1984) – documentário e animação, 35mm, documentário narrando a lenda de Oxumarê, um dos mais misteriosos Orixás do candomblé afro-brasileiro, que não é celebrado na Umbanda, por seu ser uma cobra e também um  arco-íris. No entanto, a cobra para a religião católica representa o diabo, que entra em choque cultural-religioso.

. De Paciente a Aluno (1983) – VHS, filme sobre o trabalho psico-pedagógico desenvolvido na CLILAG-Clínica Médico-Psicológica da Lagoa, no RJ, na reeducação de crianças e adolescentes problemas e excepcionais. Apresentado no II Congresso Latino Americano de Educação Montessori, como relato de experiência com resultados positivos na educação.

. Eclipse (1984) – animação direta na película, 35mm, diante de imagens que se transfiguram, dentro de um cogumelo de uma explosão já começada, a narração de um rude poema latino-americano conta ocorrências e impressões das décadas de sessenta, setenta e oitenta no Brasil e América Latina, com algumas falhas de memória. Textos de Glauber, Che Guevara. Reflexões sobre o colonialismo. Influência do experimentalismo de Norman Mclaren, mas talvez em um procedimento único, inédito no cinema de animação, Moreno pintou o filme inteiro, não no contratipo, isso encareceria demais o processo, mas no próprio negativo. Trabalho com cores, pensando na revelação do negativo, cores “opostas”: o vermelho teria que ser azul etc. Independência entre som e imagem. Música experimental de Villa-Lobos: “Rude poema”.

. Planeta Terra (1985) – animação em película para o filme que celebra o ano internacional da paz.

. O Olho Amarelo do Tigre (1988) – ficção, 35mm, indefesa, como diante dos olhos amarelos de um tigre, uma mulher, antes de se matar, fala à Cristo na cruz. Expõe o que a perturba: a fome, a miséria, crianças abandonadas, a relação homem-mulher, controle de natalidade e a sua própria crise de fé.

Filmes em Super-8

  • Cedro, açude tombado (1976) – (único editado e com créditos)
  • Moço, quer que eu conte a história de Olinda (1976)
  • Boa Viagem (1976)
  • Frutas da terra (1976)
  • Chico da Silva (1976)

Bibliografia

. “Cinema Brasileiro – História e relações com o Estado”, EDUFF, Niterói, 1994.

. “A personagem homossexual no cinema brasileiro”

Entrevista 26/05/2006

Imprensa

Transcrição da entrevista