Cineasta, escritor, graduado em Comunicação e em Jornalismo e com Mestrado em Comunicação realizados na ECO-UFRJ, e Doutorado em Cinema na ECA-USP, e pós-doutorado em Cinema & História na Nouvelle Sorbonne – Paris III. Na Corisco Filmes, produtora que funda em 1972 com colegas da graduação, realiza filmes, programas de televisão, exposições, pesquisas e publicações. Na década de 90 torna-se professor do Departamento de Cinema e Vídeo e da Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Tem trabalhado sobre o encontro da cultura popular com a indústria cultural no Rio de Janeiro, e, particularmente, sobre temas do cinema brasileiro.
Filmografia
. Trombose, filme de curta-metragem, p&b, mudo, 16mm, participante do histórico Festival JB de 1969 para filmes com 90 segundos, mudos ou sonoros, tendo como tema “Vida”. Impressões de um estudante universitário carioca, realizador estreante cinematograficamente analfabeto, vindas do estranhamento de suas próprias circunstâncias e das limitações impostas por uma ditadura militar no poder. É crucial o silêncio frente ao caráter enumerativo da narrativa para convergir no final catártico. Roteiro e direção. Produção MAM/RJ.
. O fim do algodoal, filme de curta-metragem, documentário, p&b, 35mm, 1969, o ciclo do algodão na região de Juazeiro. Dirigido por Luciano Müller, Produção e montagem.
. Sai Dessa Exu1, filme de média-metragem, cor, 35mm, 20’, 1972, opondo um centro de macumba na favela de Sta. Marta a um centro de umbanda próximo no bairro de Botafogo. O imaginário da macumba como uma história do Brasil, da Colônia à República, contada do ponto de vista dos negros, os donos do saber, por Dona Maria Batuka e por seu filho, o sambista Zé Prego. O ritmo de tambores e atabaques no corpo dos presentes, nas giras quibandeiras dos Pretos-Velhos e dos Exus. Na dança ritual, na intimidade da consulta: quando somem distinções entre palco e plateia os homens dialogam com as entidades. Embaixo, os ritos e o atendimento dos frequentadores ordenados e padronizados pela Federação Umbandista, o centro liderado por um médico que elabora sobre suas posições e expectativas sobre o futuro do culto, e mesmo sobre seu encontro com os Exus. A pequena burguesia botafoguense misturada com empregadas domésticas e famílias de policiais. Na virada do ano, a festa das entidades que tomava as praias do Rio de Janeiro: o reinado dos pretos-velhos e das feiticeiras da Bahia. Roteiro e direção. Produção ECO-UFRJ.
. Coisas do Arco da Velha, filme de curta-metragem, documentário, cor, 35mm, 1973, o período áureo da Rádio Nacional e o desenvolvimento de uma linguagem nacional dos meios de comunicação de massa. Roteiro e co-direção. Corisco Filmes.
. Carro de Bois (1974) – filme de curta-metragem dirigido por Humberto Mauro, documentário, cor, 35mm, a vida rural mineira. Produção. INC.
. O Sabor da Terra, filme de curta-metragem, cor, super-8, 15’, 1974, recriando os acontecimentos na filmagem de “Fragmentos da fazenda clássica”, quando a jovem equipe da Corisco Filme é pela segunda vez dirigida pelo grande cineasta mineiro Humberto Mauro, pioneiro na criação de uma linguagem cinematográfica nacional. Imagens das filmagens e dos seus bastidores na casa e no estúdio de Mauro em Volta Grande. Lembrança das coisas ditas em nossa relação “amorosa com sobressaltos” com o mestre, e em nossas errâncias e delírios caminhando no mato e pela cidadezinha. O filme abre opondo o tema do filme Midnight Cowboy com uma canção por nós composta sobre o filósofo grego Heráclito de Éfeso. As músicas que lá tocamos, na vitrola ou no violão: blues, cantigas, Brubeck e o tema de Gil Evans. Fotografia e direção. Corisco Filmes.
. Fragmentos da Fazenda Clássica (1975) – filme de curta-metragem dirigido por Humberto Mauro, resultado da filmagem de seu roteiro “Teoria geral da Fazenda Clássica”, documentário, cor, 16mm, a tradicional fazenda mineira. Direção de Produção. INC.
. Chega de Demanda – Cartola, filme de curta-metragem, p&b, 35mm, 11’, 1975, abordando o célebre sambista e sua escola de samba a Estação Primeira da Mangueira. Cartola conta como eram no início os desfiles, e aponta as transformações sofridas das quais ele se ressente, que o moro não gosta, reconhecendo seus benefícios, em parte, com a abertura de formas de trabalho e remuneração para os moradores da favela divertindo a cidade. O sentimento, essencial para a criação de um samba, e o trabalho de servente no Ministério da Indústria e do Comércio – que não é para sentir! Seus sambas, maravilhosamente arranjados e gravados por ele em casa para o filme, associados a imagens que fazem reviver sua Mangueira, ou os fazem ganhar novos significados – resultado de um roteiro escrito por ele e pelo realizador numa madrugada num botequim da Praça Mauá perto de seu trabalho. O carnaval e o anoitecer na Mangueira. Roteiro e direção. Roteiro: Gustavo Praça, Roberto Moura; fotografia: Murilo Salles; som: Ismael Cordeiro; montagem: Mônica Segreto e Valéria Mauro; produção: Corisco Filmes.
. Hospital Pinel (1977) – filme de média-metragem, documentário, cor, super 8, 1977, o atendimento hospitalar psiquiátrico. Roteiro e direção.
. Um edifício chamado 200 (1978) – filme de longa-metragem, ficção, cor, 35mm, 1978, baseado na peça teatral do mesmo nome de Paulo Pontes. Dirigido por Carlos Imperial. Fotografia still. Morena Produções.
. Alô Tetéia (1979), filme de curta-metragem, ficção, cor, 35mm, comédia explorando as diferenças entre os moradores da zona sul e da zona norte que se dirigem para às praias cariocas. Direção José Joffily. Fotografia still.
. Futebol 3 – Jogo dos Homens, filme de curta-metragem, p&b, 35mm, 13’, 1980, “Futebol 3” série de três filmes baseados em capítulos de minha tese sobre o negro no futebol brasileiro, esse primeiro comparando o futebol com a vida cotidiana, e abordando a figura do torcedor. As circunstâncias do futebol como metáforas para a vida, com suas ações individuais ou coletivas, seus momentos de associação ou enfrentamento. Da espontaneidade das peladas ao futebol-arte da seleção brasileira. A identificação precoce do torcedor com seu time e sua eterna fidelidade, e a presença exuberante e musical da torcida no Maracanã. A música tema dos filmes, “Rancho da Goiabada”, de João Bosco e Aldir Blanc, e músicas aqui associadas ao futebol, tocadas pelo conjunto de gafieira Língua de Sogra, a música tema cantada por Ângela Rabelo. Roteiro e direção. Corisco Filmes.
. Futebol 3 – Meio de Vida, filme de curta-metragem, p&b, 35mm, 1980, a profissão de jogador de futebol e a figura do craque. A partir do profissionalismo em 1933, os jogadores, antes vindos das elites, passam a vir das classes populares, tornando-se um privilégio para esses, expostos como profissionais a uma rotina que lembra a fábrica e o quartel. A “lei do passe” colocando os jogadores num meio caminho entre o assalariado e a simples mercadoria. Imagens de treinamentos nos principais clubes cariocas, e de um Fla X Flu nos anos 1940. Os jogadores dos grandes times no Maracanã, destacando-se a grande equipe do Flamengo liderada por Zico. A seleção brasileira campeã mundial em 1858 e 1962, com o destaque do craque Garrincha. O futebol como expressão máxima de um país que ainda ocupa posições secundárias no cenário mundial. Roteiro e direção. Corisco Filmes.
. Futebol 3 – Zona do Agrião, filme de curta-metragem, documentário, p&b, 35mm, 14’, 1980, os estádios do futebol brasileiro e sua utilização pelos representantes do poder. Iniciado por imagens do Coliseu romano, o filme aborda os principais estádios brasileiros, o das Laranjeiras, do Fluminense, construído em 1919 para a primeira grande competição futebolística no Brasil, o do Vasco da Gama, São Januário, palco de grandes jogos como dos desfiles cívicos de Getúlio Vargas, e o Maracanã, construído pela municipalidade para a Copa do Mundo de 1950 – quando somos derrotados para desespero dos torcedores que o lotavam – sugerindo nas suas divisões a ordenação de classes na sociedade brasileira, e pela suas conformações favorecendo o encontro dos líderes políticos com a massa, como havia feito Hitler nas Olimpíadas. O estádio moderno é ao mesmo tempo um sonho do sistema de harmonia social hierarquizada, como sugere em sua monumentalidade uma nova forma de ver o jogo. Os três filmes combinam filmagens feitas no momento de sua realizaçâo com imagens pesquisadas do passado do futebol brasileiro. Roteiro e direção. Corisco Filmes.
. Ângela Noite, 11’, filme de curta-metragem, p&b, 35mm, 11’, 1981. No fim do dia, reúnem-se na esquina do Teatro Carlos Gomes na Praça Tiradentes artistas de circo e de espetáculos de variedade: mágicos, mulheres-gorila, palhaços e mágicos. Com a chegada da noite chegam outros frequentadores daquelas calçadas e bares: veados e travestis, distantes do universo gay das classes médias e da burguesia, que com exuberância e dramaticidade apossam-se daquele efêmero território livre, onde são apenas tolerados pela sociedade e pela polícia. Ângela domina o repertório de Ângela Maria com sua voz afinada de timbre único. Primeiro sentada num banco ao lado do balcão, depois, quando começa a chover, cantando no meio da rua, possuída, carismática. Na rua molhada Ângela se deixa revelar pelo farol de um carro que passa como uma representação possível da própria Tiradentes, medula sensível da cidade. Enquanto vai amanhecendo volta o movimento no ponto de ônibus, os bares lentamente reabrindo, um carro de polícia já estaciona na esquina. Roteiro e direção. Corisco Filmes.
. Bairro Jabour – filme de curta-metragem, documentário, p&b, 35mm, 1982, um bairro da Baixada Fluminense onde favelados convivem com moradores militares do baixo oficialato. Direção Sergio Coelho. Entrevistas e montagem. Corisco Filmes.
. Okê Jumbeba – A Pequena África no Rio de Janeiro, filme de média-metragem, cor, 16mm, 25’, 1987, no início do século passado a diáspora de negros baianos no Rio e os acontecimentos em torno da Revolta da Vacina na cidade. O filme repertoria as ferramentas do cinema documentário – a entrevista, a reportagem, a locução em OFF de textos de jornais ou de escritos de Lima Barreto, o uso de imagens de arquivo – pinturas de artistas negros, fotos primeiras das ruas, feiras e favelas da zona portuária -, chegando a parodiar uma hipotética abordagem da emissora líder do tema da Pequena África. Em sua fragmentação, a narrativa se organiza a partir da dramatização feita com atores de charges dialogadas publicadas nos jornais da época, chegando a confrontações do passado com o presente, e a certas transgressões e dissonâncias, favorecidas por empréstimos da linguagem poética e das artes plásticas. As dramáticas circunstâncias como as notáveis formas de expressão da Pequena África que terminariam por legar uma identidade contraditória ao Rio de Janeiro. À música e aos músicos reunidos no Rio, baianos e cariocas – Donga, Pixinguinha, Martinho da Vila, Gilberto Gil – se juntam outros, vindos de outras partes – Miles Daves, Jimmy Hendrix. Roteiro e direção. Corisco Filmes & Embrafilme & CNPq.
. Katharsys – Histórias dos Anos 80 (1990), filme de longa-metragem, ficção, cor, 16mm, 1990, biografia ficcional de uma geração de cineastas brasileiros frente as possibilidades e instabilidades de seu ofício. Filmado em película nos anos 1980, soterrado pelo desmanche do cinema brasileiro no início do governo Collor, o filme foi agora finalizado com as ferramentas digitais. Um realizador cinematográfico (Breno Moroni) conta as peculiaridades de três de seus filmes aos espectadores e depois os mostra, enquanto atravessa uma realidade cada vez mais instável para um cinema de invenção, num circuito controlado por grandes conglomerados internacionais. Em Com Vargas na Veia, um professor de história fascinado pela figura de Getúlio Vargas e pelas mulheres, menos pela sua, vive uma relação contraditória com um colega libertário que passa por graves problemas mentais. Em Nascimento e Morte, duas mulheres, que haviam sido presas e torturadas atravessam, numa véspera de Natal, as ruas festivas cheias de papel picado, para executar um atentado contra um grande empresário, quando matam e morrem. No último, A Propósito do Rio, o realizador – dispondo de uma equipe composta apenas por um fotógrafo e por um ator fazendo todos os papéis – cria personagens à sua própria imagem para falar do Rio de Janeiro. Fragilizado, ele sofre a emergência de um duplo, não mais o artista mas uma entidade, Exu, Zé Pelintra (Grande Othelo) que, formado pelas próprias tensões que percebe na cidade, toma o discurso transitando numa realidade paralela, quando retornam os personagens e as questões dos filmes anteriores. Quando Exu escapa para os grandes exteriores da cidade, as duas metades, artista e entidade, encontram-se e provocam-se na praça, na avenida e na praia, frente céu e mar, numa busca frustrada por unidade. Roteiro e direção. Corisco Filmes & Embrafilme.
. Praça Tiradentes – Centro do Mundo, média metragem, vídeo U-Matic, 25’, 1989, o passado-presente da Praça aonde nasceu a indústria de diversões do Rio de Janeiro. Filme construído a partir de uma parceria criativa com Grande Othelo, como eu grande adepto da Praça, que leu magistralmente meu texto que ele gostou e disse que dava um filme, e compôs a música final, que tornou-se seu título. Apresenta-se como uma revista cinematográfica com diversas partes, começando com uma imagem aérea que sobrevoa a praça. Relatos de sua história como espaço de uso comum, distante e marginal onde é enforcado Tiradentes, à sua integração à cidade, local de onde surgem seus primeiros teatros e cinemas – contrapõem-se a imagens da Praça, atravessada ou frequentada por muitos, e dos bares em seu redor, onde os pobres comem e as prostitutas trabalham. Uma reportagem com entrevistas tem suas partes entremeadas abordando o estado precário do impressionante teatro Carlos Gomes. A imagem impressionante de Othelo menino de smoking, estreando na Companhia Negra de Revistas. Fundamental no filme a música instrumental, cordas e sopros, de Nelsinho Laranjeiras que dialoga com o texto lhe emprestando ritmo e tonalidade. E a marcha-título improvisada por Othelo no final do dia de gravações. Roteiro e direção. Corisco Filmes & Capiroba & Enugbarijo & Palmares.
. Projeto Poconé, PROJETO POCONÉ, programa vídeo U-Matic, documentário, 1990, abordando o desenvolvimento de tecnologias de mineração com baixo impacto ambiental no Pantanal matogrossense. Roteiro e direção. CETEN/CNPq.
. Centro do Rio, programa vídeo U-Matic, documentário, 1991, realizado sobre a conjuntura e as propostas urbanísticas na área. Argumento de Verena Andreata. Roteiro e direção. IPLANRIO/Prefeitura do Rio de Janeiro.
. Esse Nosso Olhar (1993) – série de 13 programas de 30’ sobre o Cinema Brasileiro exibidos pela Rede Brasil e pela TV Cultura de S. Paulo, Betacan. Roteiro, apresentação e direção. Corisco Filmes, Banco do Brasil, UFF.
. Sabor da Terra – o Cinema de Humberto Mauro (2000) – série de 3 programas de 60’ para televisão, Betacan, 2000. Roteiro e direção. Corisco Filmes, GNT/Globo.